Prof. Doutor Antonio André Neto

21 jul 2014

Autor: Antonio André Neto

A era dos intraempreendedores

Nossos antepassados dos tempos do pastoreio, tinham pouca necessidade de prever o futuro. Para eles, o futuro seria apenas a repetição dos seus dias atuais:  Filhos e netos continuariam sendo pastores de ovelhas, como foram seus pais e avós.

Hoje nós vivemos  uma realidade muito diferente. Nossa capacidade de gerar novas tecnologias se tornou tão desenvolvida, que nos tornamos desatualizados sobre nosso próprio modus operandi, com uma rapidez extraordinária.

Há quem diga que metade de tudo o que temos e sabemos não servirá para absolutamente nada em dez anos. A rapidez com que são geradas essas tecnologias, torna os produtos e serviços oferecidos pelas nossas organizações, vítimas fáceis da obsolescência.

E apesar de existir abundância de quase tudo, há uma matéria prima cada vez mais escassa: o tempo. Vivemos um paradoxo: Nunca tivemos tantas facilidades e nunca estivemos tão sem tempo.

Nossas organizações precisam ter uma extraordinária capacidade de resposta para conquistar novos clientes e para manter os clientes atuais. Precisamos correr contra o relógio.

A arena competitiva destrói com enorme facilidade planos estratégicos elaborados com todo o rigor acadêmico, porque os cenários considerados,  não foram capazes de contemplar as mudanças econômicas, sociais e as ações de concorrentes globais, vindos muitas vezes do outro lado do mundo.

Planejar se torna a cada dia, uma arte que considera o futuro cada vez mais à curto prazo. Nos países mais avançados, pesquisas sobre o comportamento do consumidor são realizadas a cada noventa dias e as empresas gastam grandes quantias para manterem o mesmo marketshare. Cerca de 25% dos clientes de empresas de telefonia celular mudam de operadora a cada ano.

Com isto, é necessário um enorme esforço de marketing e grandes investimentos em tecnologia para conquistar novos clientes, apenas para recompor a porcentagem da carteira que se tinha no começo do ano.

A atitude empreendedora como ponto de partida

Neste cenário, como nossas organizações se preparam para serem vitoriosas? É necessário empreender. Todo o tempo. O dicionário Aurélio descreve “empreendercom sendo: “Deliberar-se a praticar, propor-se, tentar; empreitada laboriosa e difícil.”

O empreendedorismo vem sendo estudado desde 1803, por Jean-Baptiste Say. Segundo ele, empreendedor é: “Alguém que inova e é agente de mudanças”. O empreendedorismo por sua vez pode ser definido como: “A atividade de quem se dedica a gerar riqueza”.

A atitude empreendedora é a capacidade que um indivíduo tem de identificar e aproveitar oportunidades de negócios.

Para empreender, é necessário mais do que recursos financeiros e tecnologia, é preciso ter talento. Todas as organizações, por menores que sejam, tem nos seus quadros profissionais de talento. A obtenção de diferenciais competitivos está intimamente ligada a como estes talentos são identificados, estimulados e aproveitados.

O talento empreendedor, se dizia, era inato, como o foi para Cristóvão Colombo, Bill Gates, Abraham Kasinski, José Mindlin e muito outros personagens que são referência, quando se fala sobre o assunto.

Porém, hoje em dia é amplamente discutida a possibilidade de capacitar novos empreendedores. Para que surjam empreendedores é necessário um ambiente propício onde a atitude empreendedora seja valorizada.

A nação mais poderosa do mundo, os EUA, é um berço de empreendedores porque a sociedade valoriza essa postura. Os EUA têm mais de 30 milhões de empresas e virtualmente, todos os novos empregos provêm de novas empresas e não das grandes empresas já estabelecidas.

Nesse país, 95% das inovações revolucionárias surgiram em pequenas empresas. Essas inovações surgem porque alguém dedicou tempo para identificar necessidades e  investigar como atende-las.

A ação empreendedora nasce da observação e da busca por fazer coisas que já existem de uma maneira diferente, identificar imperfeições em produtos e serviços e resolvê-las, conversar com os clientes e saber quais são suas necessidades e desejos.

Os intraempreendedores em cena

Os empreendedores mais conhecidos são aqueles que criam seu próprio negócio, mas uma nova categoria vem ganhando destaque; a dos intraempreendedores, aqueles que vislumbram e desenvolvem oportunidades de negócios ou de melhorias para a organização onde trabalham.

É preciso criar um ambiente propício ao surgimento de intraempreendedores para aumentar a capacidade das empresas de identificar oportunidades de negócios. O Brasil tem aproximadamente 10 milhões de empresas, formais e informais, das quais, cerca de 95% são micro ou pequenas empresas.

Porém, os riscos de empreender um novo negócio são refletidos na estatística de que, no Brasil, cerca de 85% das novas empresas fecham suas portas antes de completar três anos de existência. Não basta só empreender é preciso também ser empresário.

O dicionário Aurélio diz que:  “Empresário é aquele que é responsável pelo bom funcionamento de uma empresa”O empreendedor que tem talento para ser empresário, se dedica prioritariamente à gerência do negócio e na grande maioria das vezes, não tem tempo para observar o ambiente de negócios e para se dedicar a ouvir os seus clientes, buscando identificar novas oportunidades.

Esta responsabilidade precisa ser compartilhada com os talentos internos, os intraempreendedores. O empreendedor quando cria em sua empresa um ambiente propício ao surgimento dos intraempreendedores assume uma outra função, a de patrocinador.

Assim como ele, que no desenvolvimento do seu negócio obteve apoio de patrocinadores, agora, patrocina novos empreendedores dentro de sua própria empresa.

O autor Gifford Pinchot, diz em seu livro; Intrapreneuring, que – “A inovação, ocorre quando existe uma combinação fortuita de uma ideia, um intrapreneur e um patrocinador, todos ao mesmo tempo”. Por isso, o grande desafio nesta era de descontinuidades é criar um time composto  pelo Empresário, pelo Empreendedor e pelo Intraempreendedor.

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Bibliografia

DOLABELA, Fernando. Oficina de empreendedorismo. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

PACHECO, Flávia. Talentos brasileiros: saiba o que eles têm em comum. São Paulo: Negócio Editora, 2002.

PINCHOT, Gifford. Intrapreneuring: Por que você não precisa deixar a empresa para tornar-se um empreendedor. São Paulo: Harbra, 1989.

TACHIZAWA, Takeshy. Criação de novos negócios: gestão de micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.